quinta-feira, 13 de outubro de 2016

PEDIDO DE SOCORRO FEMININO.

NÃO ME DEIXE SOLTA!
Psicologia feminina.
Não era uma pássaro, nem uma pipa em tempestade ou uma embarcação em um  mar revolto.  Uma gaiola, um linha nova ou uma âncora, era a urgência naquele momento. Ou seja, aquela mulher não pedia, ela exigia que algo externo a controlasse.
De uns tempos para cá, ela se sentia ameaçada não por algo externo, e, dentro dela, notava a perda do controle e, assim,  sentia que precisava  garantir sua sobrevivência emocional na relação.
Durante algumas primaveras elas teve certeza de tudo, ou melhor, na verdade, de forma dogmática, vivia balizada por crenças repassadas pela família. A ideia era crescer, casar, ter filhos e se aposentar. No entanto, na álgebra de seu universo feminino quanto mais somava certezas, menos feliz ela  ficava.
Costumo dizer que só é pior que sua dúvida, a certeza emprestada do “outro”. Quando descobrimos que tudo aquilo que acreditávamos são dogmas e verdades relacionais, claro, descobrimos que elas, um dia, não nos cabem mais.
A certeza do “outro” é como uma roupa que encolhe o tecido na primeira lavagem. Afinal, quando isso acontece, abraçamos a ansiedade e somos arremessados para o epicentro do furacão emocional.
Aquela mulher passou uma vida inteira tendo  tanta certeza de tudo que  todos não ousavam   duvidar dela, principalmente, o marido. No entanto, de uns tempos para cá,  ela começou a sentir um calafrio diferente e  seu olhar não era mais o mesmo.
Alguma coisa tinha acontecido dentro de sua alma e  parecia que brotava, de maneira tímida, uma nova pessoa . A certeza que ela sempre ofereceu a todos começou a lhe incomodar, afinal, naquela fase da vida, queria se permitir duvidar de tudo um pouco. A certeza dela deu garantias demais a todos e a  tornou uma pessoa previsível ao extremo.
A sua lealdade era uma certeza inegociável e, como um dogma, não era cabível qualquer questionamento. Assim sendo, de forma anônima observava atentamente o trepidar de suas emoções mais internas. No auge da dúvida ela disse assim a seu marido:
-Você não está me deixando muito solta?
O marido de forma desentendida perguntou?
-O que você quer dizer?
Na verdade nem ela sabia dizer e traduzir tal pedido, talvez ela quisesse de forma inocente um pequeno freio, uma apólice emocional do momento novo. A incerteza e a dúvida era um mundo novo para ela, pensamentos e fantasias estranhas assombravam suas emoções. Desta feita, possibilidades e fantasias extraconjugais saltitavam em sua mente atormentada.
O que ela mais queria era uma liberdade vigiada, em tese, sem precisar ao certo que havia uma distância entre o que queria e o que precisava. A única corrente que ela conhecia eram suas certezas e dogmas de “boa moça”, entretanto, as correntes tinham ficado durante tanto tempo em seus tornozelos que desenharam marcas profundas na pele.
Ela tinha a possibilidade de ser livre, porém, as marcas em seu calcanhar lhe  lembravam que sua alma ainda mantinha correntes  intactas. No desatino de saber que podia mas não devia, as correntes imaginárias de suas certezas regeneravam mentalmente. Os dogmas familiares, as expectativas alheias, as certezas dos “outros” não lhe serviam mais. Finalmente, ela pedia socorro não ao marido, mas tão somente falava consigo mesma.
Ela pedia uma coisa, porém,  sussurrava outra:
- Preciso ter minhas certezas!


Marcos Bersam

Psicólogo
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