OCEANO FEMININO.
Da mesma forma que um rio
caudaloso começa seu percurso de forma modesta ao pé da serra, de maneira singela
e mansa até sonhar com o ingresso no oceano, aquela mulher também sonhava desde
a sua puberdade encontrar o grande amor de sua vida, por vezes, idealizada na
figura do príncipe encantado.
O sonho de ser amada na sua
plenitude por alguém fez de algum modo aquela mulher mapear o trajeto do rio
até o oceano. Então, encontrou forças na esperança, fortaleceu-se nos sonhos,
investiu no amanhã, claro, para poder sonhar com a realização de desaguar no
oceano. A verdade é que o rio não contava com as agressões externas, assim, erosões
emocionais, desmatamento da dignidade afetiva ofenderam o curso natural das
águas. O leito do rio foi estreitado quando o amor esperado não aconteceu na
prazo sonhado, logo precisou de substituir, de última hora, suas pretensões.
Atualmente, aquela mulher não sonha mais com o amor incondicional do parceiro,
apenas contenta-se com a possibilidade de ser ouvida.
O oceano necessita de liberdade e
coragem para existir, acostumada com o leito raso e longe das profundezas de
águas oceânicas, ela vai ficando resignada com os igarapés convenientes no
momento. Desacreditada de que pode ser feliz, distante da transformação ela
precisa, no mínimo, ser ouvida para não ser testemunha da estiagem do rio.
Ser
ouvida nesse momento é a única forma de garantir a sobrevivência do rio,
enquanto o amor não acontece, de fato, e o oceano não aproxima-se. Encabulado e tímido aquele rio
adiava o ingresso no oceano, o medo o paralisava nos contornos e declives mais
acentuados; sem perceber a flexibilidade e força das águas ficava receoso de
contornar pedras e rochas no caminho. O oceano ansiava também pelo encontro
agendado, porém, o rio tinha dificuldade de dar adeus a superficialidade e segurança
do seu leito. O rio estava prestes a aceitar sua vocação inicial, quando numa
apoteose oceânica o rio passaria a pensar e agir de acordo com a grandezas dos
mares.
Marcos Bersam
Psicólogo clínico
Nenhum comentário:
Postar um comentário