sexta-feira, 29 de julho de 2016

MANIA DE QUEBRAR PRATOS

LOUCA DE CARTEIRINHA.

Aquela mulher era tida, por todos, como uma pessoa difícil de lidar; pois em qualquer oportunidade ela arremessava pratos e o que tinha nas mãos. Então, em episódios de fúria, ninguém conseguia ficar por perto. É natural colocarmos nossas “loucuras” no outro, assim, frequentemente, sempre chega alguém até o consultório dizendo que foi fulano que mandou procurar ajuda e vir conversar com o psicólogo. Naquela família não era diferente, ou seja, havia uma unanimidade entre seus familiares que a “loucura” tinha nome e sobrenome, ou seja, a arremessadora de pratos era a “louca” de carteirinha da vez.

Indagada sobre o motivo de ter me procurado, ela não hesitou e foi categórica: - Eles estão dizendo que estou ficando “louca”! Tal crença era reforçada, principalmente, pelo marido que induzia os filhos a tais argumentos.

A loucura de todos estava depositado naquela mulher, só faltava um psicólogo para atestar a insanidade e todos estariam absolvidos de sua cota de loucura.

Meu marido fala que estou ficando doida e que minha raiva não é normal, ou seja, ela reconhecia sua raiva. Se fosse tão “louca”, em tese, não teria esse discernimento. Não podia aceitar aquele raciocínio linear, então indaguei: E seu marido? Ele é a calma em pessoa, não é como eu. Hum! Entendo!

O marido tinha uma aura de “bom moço”, religioso e era o arauto da sensatez. A raiva escolhe caminhos tortuosos, seria um desastre naquela oportunidade do tratamento um psicólogo ser o avalista da loucura isolada daquela mulher. Onde entraria as engrenagens insanas dos outros membros da família? De fato, o mais interessante do tratamento foi reconhecer que o marido também tinha uma raiva igual ou maior do que a esposa, claro, disfarçada.

A raiva é quando não lidamos bem com a frustração e mágoas, por exemplo, pode ser manifesta, latente, residual, contida; ou seja, o marido tinha uma raiva retida, em tese, estava quase se transformando em ressentimento.

De forma mais sutil e sofisticada ele não atirava pratos, muito menos, usava xingamentos. A raiva dele era manifesta pela indiferença afetiva, desinteresse pelo diálogo e apatia sexual. Quando voltava para casa, assim sempre havia um livro a ser lido, um jornal ou esporte na televisão que não podia ser adiado. Ele vivia frustrado e com isso não percebia sua raiva acorrentada internamente, logo revidava de forma covarde através da frieza emocional.

Ao observar, mais de perto, pode-se constatar que a raiva de ambos não era mais do que sintoma, na verdade ambos tinham medo. Ela convivia com o medo de não ser importante e útil, ele tinha temor de não ser amado ou reconhecido pelos seus feitos. Enfim, só depois que cada um reconheceu seus limites e emoções verdadeiras, foi possível não faltar pratos naquela casa.


Marcos Bersam
Psicólogo

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