quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

NOITE MAL DORMIDA

Sonho dos "anjos"?
A campainha do interfone cortava o silêncio da madrugada, assim, seu sono foi interrompido por um chamado inusitado. De modo abrupto você salta da cama e atende sobressaltado, claro, com o coração saindo pela boca. Entretanto, percebe que a pessoa , do outro lado, na portaria de seu prédio, era um desafeto do passado. Prontamente, não hesita em desligar o interfone, essa estratégia é notada por quem tanto quer falar contigo. De repente, você dirige-se aos aposentos quando tenta recuperar seu sono; aí, pra sua surpresa, agora, eis que o telefone começa a tocar.

Quando você ensaia atender, imediatamente, percebe que se trata da mesma pessoa, sem vacilar arranca a tomada para restabelecer o silêncio. Assim sendo, a persistência da pessoa em falar contigo alcançou a janela dos fundos do seu apartamento, assim, a pessoa notou sua estratégia de evitação , fez ela eleger sua janela dos fundos com uma pedrada certeira. Ah! Sempre é bom lembrar que temos muitas vidraças, certo? A tenacidade e insistência da pessoa ,do lado de fora, parecia ser apenas menor do que sua raiva.

No consultório vejo cada dia pessoas desligando os interfones e aparelho de telefones para evitar serem incomodados na paz da madrugada- aparências externas do ego. O sintoma funciona do mesmo modo; em tese, a ansiedade, a depressão, a falta de sentido na vida, faz você assumir a postura distraída, talvez, o caminho mais curto seja cortar o fio do interfone ou puxar a tomada do telefone, de fato, tais atitudes não implicam responsabilidades.

A tendência quando estamos sofrendo é negar e raiz da aflição. Ao desligar os interfones e telefones existenciais, em tese, faz você continuar sem saber o motivo do sofrimento. O ruído da madrugada; é uma metáfora de que os problemas-depressão, ansiedade podem acontecer nos momentos mais imprevisíveis. Então, à noite e o sono representam o casamento perfeito, a família feliz, filhos, a situação econômica confortável, emprego bem remunerado, ou, até mesmo, o vigor da juventude.

Quando você se nega atender “a pessoa inconveniente" - dor, quase sempre, exige ser notada, ou seja, não adianta você desligar a percepção sensorial. Ao desligar e evitar atender o chamado, claro, você começa a compensar ; nas seguintes situações: comida, sexo, remédios, drogas, compras, cirurgias plásticas desnecessárias, relações que funcionam como a mordaça do interfone e do telefone consciencial. O sintoma é insistente, precisa ser decodificado. A tristeza não deixa de existir por conta do antidepressivo; por exemplo, a droga apenas corta os fios do interfone e puxa a tomada do telefone, ao fazer isso você ganha apenas o silêncio aparente, porém, a pessoa está do lado de “fora”-repressão.

Os sintomas psicológicos costumam migrar de um ponto para outro; tal como aconteceu com o interfone, o telefone e vidraça. A terapia é fazer a pessoa ter ânimo e coragem para descer as escadas, ou, quem sabe, atender o interfone ou telefone; com a certeza que a noite não agasalha apenas o sonho dos anjos.

marcos bersam
psicólogo

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