quinta-feira, 5 de novembro de 2015

RELACIONAMENTO COM FILHOS

Aprendendo a ter medo.


Alguns de nossos medos podem ser aprendidos na infância, assim, os pais, figuras centrais nesse processo são os responsáveis imediatos por esse aprendizado. Num experimento com algumas crianças pequenas foi mostrado animais de borracha –aranhas e cobras. E, na ocasião, foi solicitado aos pais que mostrassem reações de espanto e terror diante de algumas simulações e de alegria e contentamento em outra aparição do animal de brinquedo. Num segundo momento, sem a presença dos pais era possível prever e antever a reação dos pequenos diante dos mesmos animais apresentados novamente.
A forma como os pais reagiam diante dos animais era copiada ,integralmente, pelos filhos; com isso pode perceber-se como é possível transmitir as reações de medo; coragem; alegria; pânico sem dizer uma única palavra, bastando apenas o exemplo. Quando os pais mostravam ficar alegres diante do estimulo- animais de brinquedo; fez com que as crianças reagissem do mesmo modo. E o contrário também foi verificado.
É recorrente no consultório, adultos ansiosos terem experimentado na infância modelo de pais apreensivos; temerosos; culpados; preocupados. A forma de encarar os acontecimentos da vida como ameaçadores tem estreita relação com a vivência e percepção da reação dos seus cuidadores diante da vida. Uma das estratégias dos pais amedrontados e ansiosos é recorrer a superproteção; pois esse expediente faz os pais projetarem nas crianças os medos e senso de perigo que estão enraizados em suas mentes.
O medo e a ameaça não reconhecidos em em nós, urge em ser transferido para “fora” do eu. A conduta torna-se uma válvula de escape para aliviar o medo não aceito; daí a postura superprotetora, quase sempre, ter as digitais de seus medos internos. A postura controladora corrobora também para o quadro de zelo desmedido.
A despeito de toda situação, a superproteção do filho, de resto, é a tentativa narcísica de lidar com seu próprio medo inconsciente; onde fica mais fácil projetar no filho. Quem tem medo é ele, não sou eu. Quem precisa de proteção é ele, não eu. A crença de que o mundo é perigoso, claro, incentiva a criança tornar-se um adulto com temperamento pre-ocupado diante das amenidades da vida. O ansioso de hoje, provavelmente, foi o filho que presenciou e conviveu com adultos assustados e temerosos. As crenças mais decisivas na vida são transmitidas junto com o desejo de acertar; nas engrenagens do amor passamos o que não temos consciência. As emoções dispensam palavras.
De forma subliminar; transmite-se a seguinte ordem: “Cuidado! O mundo é perigoso”. "sem mim você não conseguirá"; "você não é capaz"; você sempre precisará de alguém". Contudo, está impresso na origem de medos adultos os ensinamentos inconscientes dos pais. Então, passar em revista, seus medos é a forma inteligente, aliás, a única profilaxia eficaz contra a deseducação emocional dos filhos.
A verdade é que na mesma escola que ensinamos o medo, em tese, podemos ensinar outros sentimentos e emoções; tal como: coragem; força; fé; resignação e perseverança. A grande questão é saber qual conteúdo você prefere ensinar, afinal, a liberdade de escolha passa, necessariamente, pelo autoconhecimento de si mesmo.

Marcos Bersam
psicoterapeuta

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