terça-feira, 6 de novembro de 2012

EDUCAÇÃO DE FILHOS



EDUCAÇÃO DE FILHOS.
CRI- ONÇAS DO MUNDO MODERNO.

Aposto que você já ouviu inúmeras vezes que as crianças de hoje estão (e são) diferentes e que muitas estão deseducadas e impossíveis, entretanto, o que podemos dizer é  que as crianças de hoje são as mesmas de ontem, no que diz a constituição dos aspectos da inteligência e percepção da realidade. Necessitam de estruturação familiar e princípios sociais para se relacionarem e desenvolverem plenamente; continuam nascendo com as mesmas constituições físicas: duas pernas, dois braços uma cabeça e dois olhos e continuam nascendo sem falar e andar.

O que mudou foram os pais e\ou, o que podemos dizer, a forma como estes conduzem o processo de formação de seus filhos, então: estes sim não são os mesmos de outra época.

Não pense e responda: “qual a diferença de um felino, um cão e uma criança?” podemos dizer que a diferença básica é que o animal é criado e a criança deveria ser educada, ou seja, o animal não tem limite, é regido pelo instinto. Ele pode sair de casa e voltar no outro dia ou até mesmo uma semana depois sem dar satisfação ao dono. Certo?

Só que hoje vemos adolescentes fazendo o mesmo; o sujeito é norteado pelo desejo de fazer o que lhe vem à cabeça sem dar satisfação aos seus progenitores (pais) que importa é a sua vontade, o prazer imediatista. Foi educado para ser servido e não para servir, ou seja, ficou preso no seu narcisismo; o que era para ser uma fase tornou-se um estado.

Não sei se vocês já perceberam, quando nasce uma criança é uma grande alegria familiar, todos desejam presentear, agradar: todo dia é dia de presente, o tio presenteia a avó da uma lembrancinha e o primo mais velho sempre tá ali com uma sacola. No fim de semana os pais pegam o rebento e o levam para o shopping, e lá toma mais presentes e divertimento.

Não que seja errado proporcionar prazer, mas como este vai valorizar o que tem se nunca ficou sem. Vou exemplificar melhor,  tente ir ao melhor restaurante da cidade depois de ter saído de um rodízio de carnes; com certeza você não apreciará as iguarias ali encontradas. É na falta que nasce o desejo. E podemos dizer que, a conquista é um dos ingredientes que imunizam o adulto de amanhã do vazio existencial.

A mãe sai cedo para trabalhar, o pai está com a agenda lotada, cabendo a os avós educar. Então, quando o garoto faz uma travessura e lá vem a avó e diz: “coitadinho não chame atenção dele ele é tão pequeno”, ou nesta situação em que “o garoto bate a cabeça na mesa e a vovó diz que a mesa é boba (...) vamos bater nela”, quando chega o fim de semana a mãe quer ficar e aproveitar seu filho mergulhado na culpa de ter que trabalhar fora, de ter faltado a reunião escolar, de não ter sido uma mãe suficientemente boa.

Na matemática da reparação a palavra não é evitada, para não gerar traumas, medos, e angustia do vazio; o “sim” se torna uma constância, uma necessidade impar, para agradar a quem deseja demonstrar o amor. Nesse ambiente permissivo a metamorfose se processa, a cri-onça ensaia os primeiros passos. O garotinho esta fazendo simplesmente o que lhe dá prazer; o filho passou a ser criado como uma joia preciosa, um príncipe, como o “Baby” do papai e da mamãe. Vejo muitos pais chamando seus filhos de “princesinhas” ou de “príncipes”; só que não tardará muito para esse nobre se transformar num déspota, num tirano.


Observe quando você vai a um shopping Center e tem um elevador, em algum lugar tem uma placa que informa a capacidade do mesmo; limitando a quantidade de pessoas ou o peso máximo: não é verdade? Ou seja, fora imposto um limite esta informação é uma forma de evitar incidentes e acidentes, pois uma vez desrespeitado o limite há a possibilidade de ocorrer um desastre.

Na criação de filhos não há essa placa de alerta, tal como no elevador. Porém, mesmo não havendo esse aviso podemos (e devemos) perceber quando acontecem sinais que informam o quanto equivocado esta ocorrendo a educação dos filhos: irritabilidade, dificuldade de concentração, desprezo pelo outro, frieza emocional, falta de empatia e a arrogância. Nos dias de hoje,  tratam a criança como se ela nunca pudesse sofrer, quem nunca disse que não se deve levar um filho ao velório, ao hospital. Daqui a pouco também não é saudável levá-lo ao asilo porque ele pode se traumatizar, lá não e ambiente para compreender e ver a finitude da vida.
Já atendi crianças que viram seus pais morrerem ao seu lado em acidentes automobilísticos e superarem muito bem seus “traumas”. Em contrapartida, vejo crianças e adultos que tiveram tudo, passam a maior parte do tempo na lan house e nos brinquedos de última geração, possuem o melhor quarto com todos os equipamentos (Ipad,Iphone X-box, televisão de Led), nunca foram expostos as agruras existenciais, foram sempre poupados, tiveram sempre os caminhos pavimentados. Estes possuem grande chance de serem tomados pela inércia e ainda engrossarem a legião pessoas que demandam os serviços de psiquiatria; usuários inveterados de antidepressivos, pois sua vida não possuem sentido já que sempre tudo foi muito facilitado
Quando falamos de limite temos que falar de exercer o dom de dizer “não”, de aprender a esperar, de aprender com crescimento, de ter  gratidão as pequenas (e grandes) acontecimentos da vida, de sentir a falta (do que não tenho e deseja-se muito), em respeitar o tempo e os limites do outro,  seus direitos e principalmente deveres.

A educação deve ser voltada para a formação de sujeitos civilizados; sempre lembrando que é que o que nos separa dos animais é a capacidade de raciocínio e uso da inteligência que  desenvolvemos através da educação, então, fica a certeza de que o binômio amor x limite é o caminho para educar crianças e não criar crionças.

Dr.Marcos Bersam

Psicólogo Clínico
www.marcosbersam.com.br

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avatarGiovanna
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Bom dia,
Li seu artigo, acredito ser pertinente com o que vivemos hoje. Só que existem uma grande diferença, a teoria às vezes não funciona na prática. O mundo muda, a maioria das pessoas acompanham e na maioria das vezes, nos vemos fazendo as mesmas coisas. O que disse são verdades. Mas , como levar esse entendimento para dentro de casa? Diante do que o mundo insiste em oferecer?
avatarDR.MARCOS BERSAM
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Imagino que não seja fácil; mas quem sabe talvez diminuindo o tempo de permanência em frente a televisão; resgatando as refeições na mesa; dialogando e se interessando mais pelos sonhos de quem vive contigo; criando opções mais inteligentes do que idas frequentes aos shoping center para sempre consumir e comprar, colocar limite sem culpa; saber que NÃO educa também, ensinar pelo exemplo; e amar sem cerimônia . Talvez esse seja um começo modesto; mas nem por isso menos eficaz.
avatarJane Richarti
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Educar não é nada fácil né Dr. Marcos,mas penso que ensinar valores só é possível para quem os tem. tenho um filho de 1 ano e 10 meses e a minha maior preocupação é prepará-lo para a vida. Não apenas a vida profissional ,mas também a vida pessoal e social. Não abro mão que meu filho seja bem educado,honesto,humilde e gentil com as pessoas. Fui criada com muita rigidez e agradeço aos meus pais por isso,acho que eles acertaram e erraram também,afinal ninguém é perfeito.Mas temos que ensinar sim aos nossos filhos o que é certo e o que é errado,senão eles sofrerão depois e a vida não perdoa. Os pais tem que ter essa responsabilidad e sim,sempre.

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