segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CIÚME


CIÚME




Olá, meus leitores do site.
Devo confessar que sempre sou sabatinado sobre esse tema nos lugares mais
impróprios. Para entendermos o ciúme, temos que falar de inveja, raiva, complexo
inferioridade, rivalidade, insegurança, infantilismo, culpa e principalmente medo.
Podemos dizer que, o medo vai mudando com a idade, ou seja, o recém nascido tem
medo de barulhos altos e inesperados e aparição súbita de máscaras ou rostos que
não sejam familiares. Uma criança, por volta dos 06 anos, tem medo do escuro ou do
bicho papão, já o adolescente tem medo da reprovação grupal ou do constrangimento
social ocasionado quase sempre pelos pais, isto é, os famosos “micos”, tais como:
levar o filho na festa; buscá-lo na saída da balada.
A mulher de 30 anos, as balzaquianas, de não casar e o ancião medo da morte e da
solidão. Com isso, o medo ganha nuances de acordo com o período existencial do
sujeito. Podemos afirmar que, o ciúme é a doença do amor e do medo.
Como falei anteriormente, um medo diferente neste caso medo de ser preterido,
abandonado, rejeitado e, ainda de não ser suficientemente atraente e "bom" para o
outro. Quase sempre, uma vida pontuada por situações de orfandade, maus tratos,
abusos sexuais, doença crônica e grave dos pais ou até mesmo o complexo Édipo mal
resolvido.
E quando o sujeito ingressa na vida adolescente e adulta, ou começa a se relacionar
afetivamente, tais medos que estavam latentes atualizam-se de maneira exponencial
nas relações. Podemos dizer, que as crises de ciúmes de hoje, nasceram num
passado remoto. A tentativa de proteger e resguardar a relação atual com controle,
posse, medo e apego, são formas desesperada de reparar as cicatrizes emocionais de
outrora.
O ciúme é um conjunto de reações comportamentais frente a uma ameaça real ou
imaginária, podemos dizer que, todo sujeito medianamente “normal” tem noção do
perigo, portanto, em algumas ocasiões pode sentir-se inseguro e amedrontado na
relação. Há uma desproporcionalidade entre a ameaça sentida pelo sujeito e o perigo
real. Imaginemos que você é assaltado ou atacado por um animal feroz, diante dessa
situação há um perigo real que justifica toda a conduta de pânico, porém, ao contrário
você vê uma borboleta ou uma barata e fica sem voz, com taquicardia, com sudorese
e em estado alerta. Nesse caso, a ameaça é imaginária e desproporcional ao fato. É
isso que a Psicologia chama de neurose.
O ciumento sataniza o rival, ora sendo a família, ora o trabalho ou mesmo uma
pessoa. O ciumento patológico sempre sabota o crescimento existencial do seu
parceiro, pois sabemos que para evoluir precisamos da liberdade e essa traz consigo
insegurança e riscos. E isto, é tudo que o ciumento quer evitar.
O controle da situação é buscado a todo custo. Ele costuma dizer e querer afirmar
que é bobagem a mulher "malhar", trabalhar fora de casa, ou ter amigos. Por isso, o
ciumento quer escolher as amizades, os programas, os lugares que a pessoa possa
frequentar.
Ele pretende oferecer tudo, entretanto, tal conduta não é porque ele é bonzinho;
mas por não tolerar a sensação da perda, do descontrole, do risco. O ciumento
acaba procurando deixar o outro sempre dependente dele, seja emocionalmente ou
economicamente.
Na verdade, pode até parecer demonstração de amor, cuidado ou zelo. Só que no
fundo o ciumento está preocupado apenas consigo mesmo. A fragilidade egóica e a
sensação de insegurança renitente aliada à frustração e a raiva do rival fazem com
que ele queria se certificar de que jamais será traído.
Muitos ciumentos querem e ficam insistentemente querendo saber do passado,
de detalhes da vida sexual de seus parceiros, na verdade isto faz com ele não
aquiete suas dúvidas. Quanto mais ele investiga a vida do outro, mais aumenta sua
insegurança, isto é, ele está sempre insatisfeito quanto às respostas obtidas.

Pode-se dizer que, o ciúme é primo próximo da inveja, quando elege o rival o sujeito
assina sua confissão de ser invejoso. Sempre digo que a inveja é a admiração não
verbalizada e o despeito toma conta de você. Um jeito muito eficaz de combater a
inveja é trabalhar o orgulho, por exemplo, admitir que você não necessita ser "perfeito"
para ser amado.
O ciumento deseja ter atributos do rival, na sua fantasia, ele sim, possui atributos
mais interessantes. Elege o outro como mais capaz, belo, forte, sensual, inteligente.
Só que, de modo geral, o ciumento não tem consciência disso e age com extrema
agressividade em relação ao rival, tentando diminuir ou desmerecer aspectos
profissionais, raciais, culturais, econômicos.
O orgulho no ciumento é muito intenso, recorre a esse dispositivo para lidar com
ansiedade, sensação de menos valia, insegurança. Dessa maneira engendra
mecanismos narcísicos para se iludir pensar que é algo que não é.
Diante do menor deslize do outro, ele é categórico em achincalhar, humilhar, julgar,
agredir sem a menor compaixão. Na verdade, a vontade de diminuir o outro e se
colocar como o máximo é fruto também de sua neurose. E não precisa ser psicólogo
para afirmar que, o ciumento patológico é egocêntrico. Pois, este (o ciumento) em
nome do amor e do cuidado, não se contenta com a felicidade do outro. Se o parceiro
deseja crescer e viver o ciumento começa a ficar ansioso e incomodado.
Temos que dizer também que o ciumento parece captar quem ele deve eleger como
parceiro, ou seja, parece que o parceiro do ciumento autoriza de modo inconsciente
que ele exerça total controle. Vocês devem ter escutado: "vou ver com meu marido se
posso".
Na verdade, temos o que merecemos, o parceiro do ciumento quase sempre deu
uma procuração em branco para o outro ser dono de sua vida. Nessa confusão
de sentimentos o ciúme não prova nenhum amor, o ciúme prova simplesmente o
desrespeito ao outro: o apego, a insegurança, o infantilismo da relação.
Finalmente, o ciúme, pode e vai acontecer, sim, pois somos seres com nossas
limitações e medos, mas o ciúme para ser normal deve ser passageiro, pontual
e transitório e não impedir o crescimento e felicidade do outro. Então, o ciúme
é como um tempero na relação, na verdade se você for preparar um prato terá
necessariamente de colocar o sal; mas a medida exagerada pode comprometer todo o
paladar.
Seja ciumento da mesma forma que utiliza o sal, entretanto, não exagere na dose e
nem esqueça que a ausência dele faz com que qualquer iguaria perca a graça.

MARCOS BERSAM

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