domingo, 26 de agosto de 2012

DANÇAR E AMAR!



A orquestra estava perfilada em uma posição estratégica que não comprometia a harmonia do lugar, entretanto, emoldurava o ambiente com sofisticação e requinte. Os músicos trajados de modo impecável com os instrumentos metálicos reluzentes ofuscava até mesmo o mais desatento. A atmosfera no lugar Convidava de forma eloquente os casais se apaixonarem, ou melhor, se conhecerem. Até porque a paixão nasce do desconhecido, do enigmático. O amor só pode surgir quando temos a possibilidade de equilibrar ilusão com realidade. O homem sabia conduzir a dama pelo salão sendo emoldurado por luzes que não deformavam os corpos. E muitos menos isento de qualquer entorpecente que minava a percepção a habilidade cognitiva. O bolero, ou a valsa afrouxava as couraças e defesas egóicas, permitia que os casais se encontrassem em perfeita harmonia, ora dançando, ora se conhecendo.
De uma forma que a mulher sabia que se aquele parceiro era seguro, firme, ou seja, ali naquela dança podia se conhecer um pouco mais o outro. Diferente das baladas atuais onde os corpos trepidantes ficam chacoalhando a uma distância enorme um do outro, quase sempre num música que gera agitação e compromete a percepção junto com bebidas que estimulam corpos e mentes a um ritmo inquietante e aflitivo. Então não e por acaso que “antigamente” era muito mais fácil acertar na escolha do parceiro, pois você tinha a oportunidade de conhecer de antemão pela dança.  Digo isso, porque a dança de tempos atrás substituía qualquer agência de matrimônio dos dias atuais, pois vocês sabem que hoje é comum terceirizar e delegar ao outro a capacidade de traçar perfis de compatibilidade. Então para atingir o coração do outro você deve passar por questionários, formulas e esperar o “outro” dar anuência de que é viável aquela relação. A dança de antigamente dispensava tudo isso, pois o homem sabia perfeitamente pelo toque como a mulher respondia as suas intenções, ora a respiração podia ser captada por um homem mais perspicaz, ora sabe-se hoje em dia que quando estamos ansiosos ou em pânico nossa respiração entra em colapso. A mulher podia pressentir a atitude e capacidade de decisão do pretende; logo um homem que titubeava em conduzir a dama pelo salão também podia não ter desenvoltura ao assumir uma relação.
A dança permitia que o toque fosse interpretado, ora as mãos se entrelaçavam concomitantemente com os olhares, a língua e os lábios sabiam esperar o momento oportuno. A dança passava a ser o escaninho do coração e da mente; uma espécie de anammese afetiva.  A dança permitia que primeiro o encontro fosse pautado pela magia do invisível; pela renúncia da pressa que sempre é inimiga de relações duradouras. A mulher não tinha que arriscar ou entrar em “parafuso” no dia seguinte, numa espécie de ressaca moral, na medida em que ficava a pensar se foi fácil demais para fulano; ou se ele vai ligar. Na verdade a dança de antigamente permitia poupar a mulher e até mesmo o homem de incompatibilidades de todo tipo. A arte da dança permitia e imunizava tanto homens e mulheres de decepções repentinas e velozes, essas aconteciam na mesma proporção e velocidade dos tempos modernos, isto é,  hoje existe a mensagem subliminar aproveite o máximo, beije sempre e colecione experiências.
A mão do homem que conduzia a dama pelo salão radiografava a personalidade da mulher; encurtava o caminho até o coração. Não importava se no ritmo da valsa ou do bolero, dançar discernia a titubieza de um menino ou a firmeza e atitude de um homem.  Hoje vemos muito falatório em torno da conquista, ou seja, homens que reproduzem o mesmo script e do outro lado mulheres desesperançosas e ao mesmo tempo sedentas em acreditar no imponderável, nos descabido. Então não fique surpreso se após uma balada dos dias atuais você sentir que terminou sozinho e sem conhecer absolutamente nada do outro.  Para conhecer o outro precisamos encurtar as distancias não apenas aproximando corpos sedentos de prazer, mas alinhar e calibrar olhares deixando que o invisível se materialize na forma de intuição.  Então pode queimar os manuais de conquistas que você leu se ainda não aprendeu a dançar.

marcos bersam

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