terça-feira, 8 de março de 2011

JUNG, CARNAVAL E A IMPORTÂNCIA DOS RITOS.



No Brasil, o carnaval se expressa de um jeito próprio para cada região. É tão diversificado quanto a variedade de suas tradições. Em todos os lugares, podemos viver momentos encantados, muitas vezes perdidos lá na ingenuidade de nossas infâncias. Em nenhum espaço faltam as diversões e fantasias. Podemos participar ou assistir ao trio elétrico com os seus blocos, a Timbalada, as escolas de samba e o sambódromo, o maracatu, o frevo, o carnaboi e o boi-bumbá, etc. Com todos esses estilos e um só povo, expressamos a alegria de existirmos como uma nação, transformando as diferenças sociais em um só grito de alegria para dizer ao mundo que estamos vivos e que, neste país, o calor humano é intenso.
Essa festa brasileira, luso-afro-ameríndia, sofreu a influência da França, que se manteve hegemônica na forma de fazer carnaval. Portugal nos trouxe o entrudo e, da comédia teatral, o Rei Momo; além do zépereira, tocador de bumbo, que revolucionou o carnaval carioca e deixou a herança rítmica da cuíca, do pandeiro, do reco-reco e de outros. Também a Comédia Italiana influenciou com suas colombinas, pierrôs e os arlequins. Esta mistura de costumes e tradições tão diferentes faz do nosso carnaval o mais famoso do mundo.
Foi o que nos mostrou um estudo folkmidiático (III Conferência Brasileira de FolkComunicação, 2001).
No Brasil, o carnaval é irreverente, criativo e popular. Muitos ligam esta festa a espíritos malignos. Outros indivíduos a relacionam a uma liberdade plena de expressão e até se ressentem do fato de que em alguns lugares é uma festa a mais para se assistir, enquanto em outros lugares é para ser vivenciada.
Carl Gustav Jung chamou a linguagem de que é feita a matéria dos nossos sonhos e fantasias de "pensamento não dirigido". É um pensamento bem oposto ao do intelecto e ao da exposição e intuições. Nele, as regras da Lógica e da Física não se aplicam e nem tampouco os preceitos morais. À medida que saímos da infância, somos iludidos pelo "pensamento dirigido" e, sem saber, nos escravizamos às manipulações de marketing ( Jung, 1973). Para uma ilustração sobre a nossa necessidade de viver o mundo encantado, bom seria assistir a um filme em casa. Algumas vezes, temos de interrompê-lo para atender ao telefone ou a outras solicitações. Quando vamos ao cinema assistir ao mesmo filme, ficamos em uma fila, compramos pipoca e depois entramos na sala escura em meio a tantas pessoas desconhecidas. Provavelmente estaremos nos aproximando mais desse mundo das trevas que habita o nosso interior e, dessa forma, o exterior e o interior se unem para mergulharmos nas emoções do filme e vivenciar de forma mais intensa a importância dos rituais.
Durkheim (1996), pai da Sociologia moderna, ao analisar os ritos, nos diz que a partilha de um sentimento comum é a única coisa importante no ritual. Aproxima-os das representações dramáticas e das recreações coletivas. Tais rituais fazem que os homens se esqueçam do mundo real para se transportar para outro mundo, onde a sua imaginação fica mais à vontade. Para ele, toda festa, mesmo que seja laica em suas origens, tem certos caracteres da cerimônia religiosa, pois traz a efervescência e o delírio, que também acontecem no estado religioso.
Para Jung (1973), os rituais facilitam a conexão entre nossas realidades interiores e exteriores, como também entre os mundos conhecidos e desconhecidos. Observou que o homem primitivo (homem-criança) sempre recorreu a ações ritualísticas, tais como danças, cantos, identificação com os espíritos, etc. Esses mitos são coordenados por uma tendência humana para organizá-los, independentemente da cultura, em um comportamento padrão que sempre existiu e sempre existirá, chamado por Jung de "arquétipo".
Miscigenação de cultura marca os ícones do carnaval brasileiro. Portugal trouxe o Entrudo e, da comédia teatral, o Rei Momo, além do Zé-Pereira. A Comédia Italiana, por exemplo, trouxe as colombinas, os pierrôs e os arlequins
Primórdios da festança
O carnaval surgiu séculos depois que a Igreja Católica, no ano de 604, na figura do Papa Gregório I, determinou um período do ano para os fiéis deixarem de lado a vida do cotidiano. Nesse período, hoje chamado de Quaresma, os fiéis deveriam dedicar-se só às questões espirituais, para lembrar os 40 dias de jejum e provações de Jesus no deserto. No ano de 1091, já com o papa Urbano II, se fixou uma data ofi- cial para o período da Quaresma. O primeiro desses dias passou a ser chamado de Quarta-Feira de Cinzas. No entanto, para compensar as privações dos prazeres mundanos, surgiu, por parte dos fiéis, outro ritual, precedendo a esse último, para viverem a polaridade oposta. Podese imaginar o aumento do consumo das carnes, além dos chamados "pecados da carne". Talvez por isso, esses últimos dias de fartura começaram a ser chamados de dias do "adeus carne" que, em italiano, se diz dias da "carne vale" ou do "carnevale". Essa é uma das explicações para a origem do nome desse ritual, bem como para a sua própria existência (Ferreira, 2004).

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