domingo, 20 de março de 2011

Invisibilidade Emocional

É bem verdade que fico muito preocupado de minha caixa de email ficar lotada com xingamentos de toda espécie ou com reclamações veementes de internautas cultos; pois sei que corro sempre o risco de ter sido infeliz na escolha do tema eleito por mim. É bem verdade que a minha meia dúzia de leitores aumentou um pouco depois de muita insistência e conto também com a complacência de vocês ao me julgarem medíocre; mas afinal posso pelo menos assegurar que é original e os textos não são recorte de outro site ou um plágio sem vergonha. Hoje conto com alguns leitores fora minha secretária; irmãos e madrinha. Alguns me perguntam de onde tirei esse tema; nem eu sei precisar; muitos temas acontecem ora depois de uma consulta ou ouvindo o silêncio ensurdecedor de uma conversa descompromissada. Estou falando de uma situação que acomete tanto filhos; esposas ou relacionamentos. Confesso a vocês que um dos super heróis que me fascinava desde pequeno era o homem invisível; não sei se é da época de vocês, mas ele podia estar ali sem ser notado; às vezes tal habilidade fazia escapar de situações perigosas ora seus poderes se transformava em arma; logo não ser notado propiciava o efeito surpresa ao inimigo. Lembro que o homem invisível usava os seus poderes para ser admirado e combater o crime. Talvez todos nós um dia pensamos como podiamos sermos invisíveis e de sem que ninguém percebesse ouvir conversas; planos e intrigas sem o constrangimento de nossa pessoa. Só que tem pessoas que não escolheram ser super herói e sofrem com a invisibilidade; vou chamar a partir der agora de invisibilidade emocional; ou seja, diferente do super herói essa pessoa não acha nem um pouco engraçado não ser notado; ele na verdade não tem opção. O sujeito que esta nessa situação adquire tal invisibilidade devido ao descaso; a rotina; o tédio; monotonia e todos os ingredientes que farão você não ser notado. É interessante você está ali, mas o outro não te nota; o marido ou namorado está diante de uma mulher interessante e batalhadora e não percebe tais valores; quem dirá um brinco novo ou um batom mais provocante; até mesmo o decote naquela pessoa passa despercebido. A invisibilidade emocional na verdade desconstrói as certezas da pessoa; por um instante você passa a acreditar que você não é notado por culpa sua. A mulher começa a ser perguntar será que não sou mais atraente? Será que engordei? O filho pensa será que sou um peso na vida dos meus pais? Sinceramente nem sei se esse conceito existe; tomara que não, pois assim posso me aventurar a escrever algo novo e quem sabe entrar para os anais da Psicologia e formular uma nova abordagem e escola de pensamento e claro anabolizar minha conta bancária. Estive pensando que a invisibilidade emocional é algo cada vez mais freqüente; a nossa percepção funciona na medida em que a emoção colore nossos olhares sobre o objeto; vou explicar melhor quando não há emoção outros diriam afeto eu continuo preferindo amor a nossa cognição entra em colapso. Estar invisível para alguém acaba sendo um tormento quando existe assimetria afetiva; ou seja, se a sua neurose não provocou tantas metástases no seu ser você consegue ter consciência de que sua atenção na vida do seu parceiro ou companheiro é mais relevante do que a dele em você. Pronto está montado à equação você está se tornando um chato e conseqüentemente um candidato a invisibilidade emocional. Para não deixar dúvidas a chatice é quando nós demonstramos mais interesse em alguém do que ele em nós. Então de modo geral a invisibilidade emocional aponta de antemão a chatice. Alguns clientes que me procuram adoeceram psiquicamente porque estão no calabouço da invisibilidade emocional; os filhos por não serem vistos e percebidos como sujeitos e, portanto únicos e importantes são arremessados no mundo do crime; das drogas ou da marginalidade. Pois na lógica dessas pessoas é preferível ser reconhecido como perverso; bandido ou drogado do que continuar sendo desprezado enquanto sujeito. O sofredor de invisibilidade emocional não existe; na verdade é um zumbi. É muito importante que quando você optar por ter alguém em sua vida essa pessoa merece ser vista; ser notada; seja como filho; mulher; esposa ou amigo. Alguns que estão nessa condição ainda tentam implorar para serem vistos; seja com pedidos, novenas ou simpatias. Na verdade uma vez invisível dificilmente você consegue aparecer com tais estratégias. A invisibilidade emocional na verdade é sentida mais perto dos que diz mais nos amar; no consultório vejo que é na família ou na proximidade dos laços sanguíneos nos relacionamentos de longa data que você começa a desaparecer; ou se desintegrar existencialmente. Existem até desculpas prontas para essa situação; falta de tempo; trabalho; vida agitada; compromissos e a vida maluca. Os que dizem nos amar são muitas vezes os que mais aceleram o processo de invisibilidade. A palavra amor na verdade é uma boa desculpa para o processo de conquista; a fala diz o que o olhar não consegue. Nessa incoerência e hiato entre os sons das palavras e os gestos das pessoas a conquista sai de cena e entra na relação à certeza do já ser. Sou casado; sou esposa; sou pai; sou filho; a comodidade dos papéis sociais acelera o processo de invisibilidade. Casais reclamam muito comigo que o outro não o nota; não nota ele, nem em suas coisas ou projetos e um estranho aparece para dizer que ele está ali. Muitos relacionamentos extraconjugais começam por uma falha, um hiato na condução da visibilidade do outro. Quase todos que estão invisíveis podem ter se tornados assim por terem sido chatos demais. Mas acalmem-se tem alguns que realmente são vitimas do destino; crianças que são ignoradas por pais ausentes sofrem e ficam marcadas pra sempre; podemos dizer que o amor é o antinodo que faz você aparecer ou reaparecer na percepção do outro. Tal como o super herói que tinha um determinado tempo de invisibilidade ou algum aspecto que fazia voltar a ser visto; só que na vida real o antídoto para você sair da sua invisibilidade é se afirmar como pessoa valorizar suas escolhas não se amedrontar e assumir as rédeas de sua vida. Isso derrama sobre você um espécie de purpurina metalizada que do contorno a sua individualidade, é verdade que quando assumimos e nos conscientizamos da nossa invisibilidade emocional somos notados e, portanto sujeito ao olhar do outro. Só que tal como o homem invisível que torna-se humano quando na medida em que é visto, notado. Você também deixa o mundo imaginário e do faz de conta quando se divorcia de sua invisbilidade emocional e ingressa com veemência na realidade afetiva do outro. Então deixar de ser invisível é assumir os riscos de inerentes da condição humana. E amigos internautas sair da invisibilidade atrai sobre nós os holofotes da sociedade; dos que continuam invisíveis e presos em suas neuroses; mas nem por perderam a capacidade de julgar e condenar. Agora a boa notícia é que apesar do ônus e risco de ser julgado; criticado e condenado logo você poderá também ser amado e nunca mais querer se sentir invisível.
Dr.Marcos Bersam

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