domingo, 6 de fevereiro de 2011

TODO O MAL VEM PARA O BEM

Antenor era de uma família tradicional que tinha resquícios de uma aristocracia decadente. Sempre estudou em escolas renomadas; mas seus pais sempre não se esqueceram de lembrá-lo de deveria ser alguém na vida. Talvez uma mensagem subliminar para ser melhor; maior do que os seus pares.

E como nossas crenças mais remotas ele cresceu focado e querendo ser alguém na vida; só que esse dia nunca chegava; pois uma meta mal traçada pode dar a sensação de tarefa impossível. Antenor estava em consonância com os mesmo dieais de seus professores que aplaudiam qualquer esboço de sucesso no futuro.

Antenor vivia pra um futuro promissor que um dia ele tinha certeza que bateria a sua porta; vejam só um futuro certo. Formou-se na adolescência e no álbum de formatura ainda dava pra ver as espinhas que denunciava sua pouca idade. E como a vida e os pais sempre tiveram pressa não tardou Antenor estava a constituir família, afinal perder tempo podia comprometer a meta de ser alguém na vida. Trabalhava 16 horas por dia e o lazer, diversão, viagens; saúde eram detalhes que podiam ser deixados pra mais adiante.

E assim a vida de Antenor seguia sem a urgência do presente; e sempre pautada na penumbra do futuro. Acumular, reter ou possuir era conceitos arraigados na mente do mesmo; amealhar títulos e riquezas e não saborear suas conquistas. As mesmas causam desatino e infortúnio; gerando um sujeito que dava sinais de irritabilidade e cansaço. Na última visita ao médico o mesmo lhe disse que sua saúde estava frágil demais; que a situação inspirava cuidado.

Não demorou muito e numa manhã de inverno após o café Antenor fora acometido de um mal súbito; um infarto fulminante o abraçara com a mesma velocidade com que ele sempre levou a vida. Eu antes de ser psicólogo aprendi muito com minhas avós; eles não titubeavam em dizer que a males que vem pro bem; não entendia direito.

Hoje cada vez mais estou certo que tudo de ruim que nos acontece é um presente; uma oportunidade para nos permitir mudança; proporciona o resgate do equilíbrio perdido.

Eu explico melhor; o obeso que está sofrendo por causa da gula; o sócio que foi traído; doença inoportuna; a traição inesperada; o filho desvirtuado. É muito comum pessoas nessa situação culparem Deus; mulher; parentes; governo; alguém. Sentem-se injustiçados e não merecedores de tamanho sofrimento. Acabam muitas vezes choramingando e cabisbaixos pelo resto de suas vidas. E não sei vocês concordam comigo; mas não demora alguns invernos e a lembrança do sofrimento já é questionada; a capacidade de superação e aprendizado nos surpreende. E na loucura da vida percebemos que graças aquele fato descobrimos outro sentido e crescemos.

Na verdade o pior momento da dor e o agora; é só lá no futuro que a dor se apresenta de forma real. O fumante que traga a nicotina está convidando para si toda sorte de doenças. O obeso na sua lógica hedonista não tem dimensão que suas artérias logo estarão entupidas e falidas. O trapaceado sempre foi pueril e ingênuo demais nas suas relações. O homem traído pela esposa depositou confiança demais em estranhos e esqueceu de que a conquista é diária.

Outro dia estava num barzinho; mas podem ficar tranqüilos que bebo com moderação; ou talvez no fim de semana um pouco mais do que permitido. E aí uma mãe me disse que seu filho fora reprovado no vestibular e ela me dizia que estava triste demais. Eu indaguei: e daí? Qual o problema?
Contei a ela o Caso do Antenor e frisei que ele também nunca tinha sido reprovado em exames escolares; mas a vida na verdade também nos avalia e em muitas vezes nos encurta e existência; não nos dando uma nota baixa. Simplesmente nos confiscando o direito de estar um pouco mais nesse planeta.

Antenor elegeu prioridades e objetivos que não eram importantes; então por isso adoro lembrar a frase ”Nunca devemos substituir o importante pelo urgente ou necessário”.
Dr. MARCOS BERSAM
CRP 04-12182

Um comentário:

  1. O difícil é saber o que é importante, urgente ou necessário... nunca sabemos se estamos correndo atrás e ilusões e contruindo castelos de areia, só depois de ver tudo desmoronando é que nos damos conta disso...

    Parabéns pelos artigos, tem me ajudado muito!

    Um abraço.

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