domingo, 9 de janeiro de 2011

DIALOGAR PARA NÃO MATAR!


Olá, amigos internautas; lembrei-me que já se passava um bom tempo sem um artigo novo; então já que o domingo estava chuvoso e a noite anterior fora bem agitada que tal então escrever algo para tentar ludibriar a idiossincrasia enfadonha do fim de semana. 
Tenho um amigo psicólogo que é gerente de recursos humanos de uma grande empresa. Ele é responsável pelo departamento de pessoal desta grande empresa e certa ocasião me disse que já estava enfurecido com a quantidade de empregados que iam até seu escritório para sempre reclamarem de algo. 
Ora o plano de saúde; ora as ferias; ora o colega da repartição; ora a fofoca; nesse turbilhão de queixas e problemas o mesmo percebia que nenhum dos indivíduos percebia sua cota de responsabilidade no problema levado o seu conhecimento. Ele disse para mim que afixou na porta da entrada de seu gabinete a seguinte placa com os dizeres.”SE VOCÊ NÃO FAZ PARTE DA SOLUÇÃO ENTÃO FAZ PARTE DO PROBLEMA”
Ele me confidenciou que após tal atitude o índice de solução e reclamação diminuiu abruptamente. A verdade nua e crua é que tem pessoas que gravitam em torno de conflitos; tais pessoas são magnetizadas e impulsionadas para qualquer situação de disputa; na verdade a permanência nas desavenças é para o fomentar o combustível de sua dinâmica neurótica. A estratégia do neurótico; diante de sua insegurança pessoal; é eleger inimigos; adversários e perigos externos. De modo projetivo ele transfere a inimigos imaginários medos internos; na verdade sente-se menos doente acreditando que o perigo está fora de si. 
Enquanto ele agir assim afasta de sua consciência o encontro consigo mesmo; com seus medos e inseguranças. Ele sente-se sempre numa batalha; uma espécie de cruzada. Ele demoniza o outro; a sensação iminente de aniquilar o outro. Esse indivíduo só sobrevive mediante a ilusão de que tem razão. O orgulho é o que estabiliza sua doença; portanto estar em homeostase egóica e afinado com a empáfia e a soberba faz parte de sua forma de ser. Ora se vangloria de ter personalidade forte; na verdade a ignorância existencial faz com ele não amadureça. O inimigo mora dentro dele mesmo; ele é o artífice de seu sofrimento.  
Nós temos exercido pouco a nossa capacidade de conciliação; diante de um conflito temos duas formas de resolver uma é dialogando a outra é usando a violência; é bom fazermos um parêntese é elencar que o orgulho; a empáfia; a soberba; insolência são elos da mesma corrente da violência e do atavismo da agressão. 
Os homens deveriam dialogar e os animais por estarem regidos pelo instinto deveriam resolver suas contendas simplesmente pela via da agressão. Só que fica a pergunta por que tantos humanos estão em pé de guerra; e não mais conseguem dialogar; conciliar; entender; desculpar-se; deixarem o orgulho de lado e assumirem sua parcela de responsabilidade?
Seria a o espírito competitivo dos dias atuais; ou seria a orfandade de valores morais; seria o afastamento compulsório imposto pelo materialismo no que tange a Deus. E o cenário então é de casais infelizes que brigam por tudo ou por nada; pais e filhos ou irmãos que mais parecem inimigos de outras épocas. 
O clima de animosidade entre familiares e estranhos parece que está gerando um colapso na forma de dialogar entre os humanos. As pessoas estão prontas para atacar; talvez pelo medo ou pela preocupação egoística plantada pelo imediatismo dos dias atuais a luta pela sobrevivência parece aguçar os instintos mais primitivos. E no amontoado de instintos a agressão desponta com o mais fácil de lançar mão. 
E aí nos deparamos com atrocidades e crimes com requintes de crueldade jamais vistos; isso tudo com emoldurado por uma geração apressada e sem tempo para as amenidades da vida; uma sociedade refém da estética alienante; do ter sobre o ser; nos modelos de felicidade alicerçados na cobiça; uma geração que se refugia nas drogas licitas e nas ilícitas; quando o sujeito não se vê com uma missão faz de sua vida algo de muito pouco valor; o amor cede lugar ao ódio; o narcisismo e o orgulho fomentam a ira. E agredir torna-se um costume banal. 
Ultimamente crimes tem acontecido em escala tão elevada. A verdade é que num conflito uma das formas do mesmo ser potencializado é você buscar sempre ter razão. 
Olha, detesto conselho, mas se você quer harmonia, não busque a porcaria da razão; esta serve simplesmente para alimentar seu orgulho e narcisismo. Na verdade a razão não existe; cada um tem a sua. 
Outra forma de boicotar um diálogo é culpar o outro; quando você age assim o outro se coloca numa posição de defesa e pode também agir de modo violento. Um conflito de modo geral é entendido com conflito pessoal; as pessoas transferem para o lado pessoal divergências de idéias; quem deve estar em conflito são as idéias. 
Olha filho; você não pode chegar tarde porque eu me preocupo com você; o meu amor por você as vezes me pede que eu o proteja um pouco mais do que deveria; temo pelos riscos que você possa correr. Sei que tenho que permitir você mais liberdade; mas para mim não é tarefa fácil. Assim ,o pai ou a mãe demonstra sinceridade e revela seus temores e medos ao filho. 
Na contramão disso; o pai com toda a arrogância diz você não vai e pronto; e quer saber de algo; você é burro mesmo de acompanhar esses seus amigos que são marginais. Quando o dialogo é calcado na arrogância; o pai está sendo violento e não usando o dialogo. Ser violento com o filho não é só dar umas palmadas. 
Na verdade, o adolescente quando reinvidica algo, ele quer ser escutado e respeitado; se os pais respeitassem mais seus filhos muitos conflitos seriam resolvidos. Filho não quer ter razão; eles querem ser reconhecidos como indivíduos que estão construindo uma identidade. 
É sempre bom lembrar que quem respeita não precisa concordar; são verbos diferentes, mas que não se excluem. Saber falar e escutar também deve ser desenvolvido; nós não sabemos escutar de modo proativo o outro, sempre queremos falar; quando você desenvolve a capacidade de escutar e se colocar de modo empático nesse dialogo a chance de equação de conflitos e enorme. 
Hoje as pessoas não sabem muito bem resolver conflitos porque as crianças estão sendo criadas para não serem frustradas; os pais não sabem dizer não e não exercem a autoridade. 
Outro dia estava num local e presenciei uma mãe dizendo para mim que sua filha de 07 anos não mais está estudando porque ela não quer. Incrível; mas é verdade. 
Crianças mimadas e voluntariosas tornaram adultos neuróticos e imaturos sem a menor capacidade de dialogar; de ceder; de entender o outro e de saberem que o narcisismo é uma patologia. 
Então se você quer ter um filho que não saiba dialogar superproteja e não apresente a ele o não e a frustração. Devemos saber que a tolerância nasce da mediana frustração. 
Se você vive como se fosse um príncipe enclausurado num castelo, você se achar superior e melhor do que o outro e em qualquer discussão você terá o desejo de aniquilar o outro e verá como uma batalha o conflito; o desejo de vitoria é uma falácia; pois num conflito beligerante não há vencedores existem apenas derrotados. 
O conflito pode gerar crescimento psicológico sim; e é bem vindo quando as partes têm maturidade para usarem esse momento para crescimento pessoal. A discussão e o dialogo é para reverter essa lógica e proporcionar ganho para os dois lados. E parece que o antídoto da matança e da barbárie está no amor. E sempre é bom lembrarmo-nos daquele mandamento “amarás ao teu próximo com a ti mesmo”.  
E quem ama cede; entende; escuta; dialoga e respeita e não tem tempo para julgar ; condenar ou escandalizar-se e muito menos procurar a maldita razão.

Marcos Bersam
Psicólogo Clínico

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