sábado, 29 de janeiro de 2011

COMO VOCÊ TEM BEIJADO?

Todos já ouviram seu nome pelo menos alguma vez; estou me referindo a Sigmund Freud; esse austríaco que teve idéias muito “malucas” para a sociedade vitoriana. Esse sujeito que deixou muita gente de cabelo em pé na sua época e até hoje causa discussões acaloradas foi veemente no tocante ao beijo. Este entendia se tratar de uma manifestação ou seria melhor um resquício da oralidade da infância; eu prefiro uma definição mais popular: Diria que sentimos um saudosismo da mamada lá dos primeiros dias de vida. 

A certeza que fica é que sem beijar fica difícil viver. Na verdade quando você leu esse titulo; você não quer saber nada da vida de Freud. Na verdade o que te interessou é que você tem dúvida quando o assunto é beijo; na verdade parece que com o passar do tempo as dúvidas sobre as coisas mais banais são as mais importantes. E você não está só muitos questionam a qualidade; eficiência ou a ausência do beijo. E fica mal para um adulto admitir em público ter dúvida sobre um tema que parece tão pueril; mas na verdade falamos muito pouco de beijo. Não me lembro de nenhuma instrução mais pormenorizada sobre esse ritual. Uma pena! 
Alguns se interessam por esse artigo por saberem que já faz um tempão que não beijam e qualquer esboço de uma cartilha do beijo causa frenesi. Não vou dizer de antemão que você não vai aprender nada sobre o beijo; prometo iludir vocês somente o necessário para prender a atenção de vocês leitores até o término desse artigo. Posso garantir que você não aprenderá a ser um exímio beijador; mas talvez você aprenda a não cometer os deslizes elementares dos que faliram na arte de beijar. 

É muito comum vermos casais se beijando loucamente; não precisa ser parente de Freud muito menos psicólogo para afirmar que ali há paixão e desejo; talvez nenhum amor. Corpos entrelaçados querendo se fundir num só; uma entrega absoluta e incondicional; na verdade o beijo vende. Vou explicar melhor; O cinema usou e abusou muito das cenas de casais enamorados que terminavam uma discussão; ou selavam juras de amor eterno no altar com cenas memoráveis do beijo. Ou o famoso beijo na chuva; que sempre despertou a vontade de fazer o mesmo. Talvez porque o melhor gosto do beijo se afine e esteja em sintonia com a natureza. 

Sabe-se apenas que ninguém fica indiferente a uma cena de beijo. Não é verdade? Alguns ficam enfurecidos; outros saudosistas; outros invejam; outros lamentam e poucos aplaudem sinceramente. 

Em meio a tantos beijos; o que melhor temos é o nosso próprio beijo; é quando você passa a ser protagonista e não um mero espectador. Talvez porque beijar não combina com o pensar; quando se pensa muito se beija muito mal. 

A razão não é o melhor lugar para preparar o terreno fértil para nascer o beijo. Na contramão do beijo que contagia as pessoas de emoção; temos os casais que se beijam por dever ou obrigação; alguns chamam de selinho é um beijo que deveria receber um selo de reprovação por algum órgão tipo immetro; na verdade esses beijos são conhecidos com beijos chuchu. É muito fácil saber quando você beija com gosto de chuchu; o gosto é nada. Esses casais beijam para cumprir protocolo; beijar sem vontade é o mesmo que respirar sem pulmão. 

O automatismo e a pressa são as desculpas para o beijo chuchu. Eles alegam que estão sem tempo para beijar; as contas; o banco vai fechar; o trânsito; enfim tudo é elencado na qualidade de pretexto. A única verdade que não vem à tona é que não existe mais desejo. O que não pode ser dito por palavras vem em forma de beijinhos sem graça. O assunto é complicado; no consultório atendo mulheres que reclamam que os maridos querem transar sem beijar; como já dizia certo poeta: “beijar é falar um segredo que o ouvido não tem competência para escutar; somente a boca”. 

Posso garantir que sua melhor relação sexual coincidiu com os melhores beijos. Enamorar; apaixonar-se é render-se ao beijo desmedido; muitos condenam e não gostam de ver casais se beijando; recriminam em nome da moralidade. Ora dizendo que são indecentes; ou que são casais grudados ou melosos. Na verdade esse infortúnio e desassossego é fruto da insatisfação pessoal com seu próprio beijo. Esses indivíduos estão no calabouço da vida; respirando o azedume da descrença existencial. A verdade é que ensaiamos o beijo antes mesmo de respirar com nossos pulmões no ventre materno. 

De certa forma estamos lá dentro da cavidade uterina com o dedinho na boca talvez para prepararmos ou massagearmos a nossa boca para árdua e prazerosa tarefa de beijarmos. Ninguém escapa: mães; pais; animais; espelhos e laranjas na adolescência; filhos; maridos e esposas. Para cada pessoa um tipo de beijo; temos o beijo fraternal; o beijo de carinho; o beijo de paixão; o de gratidão; o de agradecimento. O problema é quando beijamos nossa esposa sempre como se fosse nossa filha ou nossa mãe; como se o beijo não fosse mais de desejo, mas de gratidão. Com certeza sentimento muito importante, mas Ca pra nós como fica a sexualidade com um beijo que é parente do beijo chuchu. 

O pai que um dia beijou a filha sem amarras, hoje se sente tolhido em nome da vergonha; a filha é impedida de beijar o pai porque é pagar mico; a esposa esquece-se de beijar sem pensar nas contas do dia seguinte; alguns esquecem até de fechar os olhos. É verdade, Freud estava certo. 

Quando pequenos mamamos e aprendemos que pela boca vem nossa sobrevivência; é instintiva a descoberta desse buraco que temos na face; só que junto com o leite materno pode vir afeto; amor; aceitação; ou rejeição; indiferença ou amargura. Depois mais tarde podemos nos alimentar de modo saudável; ou ingerir drogas; podemos dizer palavras edificantes ou destruir o outro com maledicência. 

Finalmente acredito ser mais fácil seguir a cartilha que aconselha: usar a boca para encurtar o caminho da emoção que vem do coração. Então fica a certeza que se você não tem beijado bem; você não tardará a ficar anêmico de alma; logo estará faltando o nutriente fundamental: amor.
MARCOS BERSAM
PSICÓLOGO CLÍNICO

3 comentários:

  1. Adorei, amei o texto, tanto que compartilhei. Parabéns!!! Lindo!!!

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  2. Adorei o texto! Amei as palavras do poeta, ao dizer "que beijar é falar um segredo que o ouvido não tem competência para escutar, somente a boca" e concordo totalmente com o último parágrafo, pois ficá-se anêmico de alma, até mesmo quem muito tempo não tem quem beijar. Parabéns por tão belas palavras e obrigada por dividir conosco,textos, que nos levam sempre a reflexões!!!

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