quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Fui Traido! E agora?


Era garoto e adorava aquele movimento todo; pessoas e garotos aglutinados de porretes na mão; malhando o Judas. Lembro com todos o detalhes possíveis o boneco ali confeccionado pela comunidade; não entendia muito bem o motivo; só sabia como criança que descer paulada no Judas era necessário; e porque não até gostoso afinal toda criança tem requintes mínimos de sadismo.E os adultos afirmavam que final o traidor merecia; a cena era tão real para mim que jurava que o mesmo parecia até gemer de dor. Era como se aquele momento catártico afugentasse meus medos da infância; batia no Judas mas quem apanhava eram os monstros e assombrações que todo menino de 07 anos carrega consigo; afinal o complexo Édipo foi deixado logo ali atrás; e o superego ensaiava os primeiros passos. Shakespeare também imortalizou a traição com Otelo; Desdêmona; afinal seja no dramaturgo britânico ou na passagem bíblica de Jó; quando o mesmo foi ofertado a satanás para esse fazer um verdadeiro furdúncio na vida do pobre coitado e o impressionante com anuência de DEUS. Seja na bíblia; na mitologia; na segurança dos laços familiares a traição ronda as relações mais sólidas e onde nunca se imagina é que acontece. Desde que o mundo é mundo acontece a traição. A traição esta diretamente ligada à capacidade ou necessidade que temos de confiar e acreditar em algo ou alguém; somos eminentemente bichos iludidos. Com certeza você já pagou para ir ao circo e lá também você consentiu que o mágico o enganasse com o seu truque; quando você assiste um bom filme os personagens mexem com suas emoções e não demora muito você tem ódios ou paixões pelos personagens. Ou seja, somos apaixonadamente fascinados dos verbos enganar; trapacear; iludir e trair. Na verdade algum de vocês um dia se sentiu traído; e aí o que fazer? Sinceramente o que não fazer é mais fácil de tentarmos descrever; quando somos traídos sentimos um impulso inato e irrefreável de sair contando para o primeiro que aparece. E é aí quem devemos tomar cuidado; o verbo trair anda de mãos dadas com o verbo arrepender. Uma pessoa traída por agir por impulso sente uma necessidade de externar sua mágoa nem sempre para a pessoa mais indicada. Que falta faz um psicólogo nessa hora ou um amigo sensato e discreto. Na verdade o traído não quer conselhos ele quer ser escutado; e isso hoje é difícil. Quando somos traídos de modo geral incorporamos o papel de vitimas; somos os primeiros a afirmar que não merecíamos. A verdade é muito mais complexa; quando somos traídos experimentamos muitas vezes o lugar que um dia colocamos alguém; só que quando é com a gente é muito; mas muito mais difícil. Traídos e traidores são elementos de uma mesma dinâmica. Está lá em qualquer escrito de Freud; o adulto torna-se adulto na medida em que ele se decepciona; não era assim quando pequenos achávamos nossos pais os melhores do mundo; modelos e exemplos de virtudes. Não demorou muito todos um dia fantasiaram que ser filho do pai do amigo era melhor; traímos um dia até mesmo a lealdade filial que deveria ser indestrutível. Quem nunca sonhou em ter um pai mais rico; mais endinheirado; com mais posses; inteligente uma mulher mais sensual ou um homem mais carinhoso. Quando a traição acontece de fato; a sombra de nossa persona bate a porta; mostra-nos o eu que até então desconhecíamos. A verdade é que o traído tende a acreditar e justificar que não foi tão grave assim; na verdade a traição é a visita inesperada da verdade. Outro dia fiz o seguinte comentário com um cliente virtual de psicologia que estava passando por um momento de angústia diante de uma dor muito intensa; E isso resume bem o que acredito ser a traição. Esse texto foi uma metáfora criada por mim para responder a uma cliente virtual do meu site de psicologia. A resposta foi essa : “ Imagina que a traição é prima muito próxima de um sentimento que vou chamar de decepção; quando a gente menos espera; sem convidarmos chega a nossa casa alguém com nome de verdade que traz um embrulho; mas o presente que está lá dentro é a decepção outros chamam de desencanto; outros desilusão. Quando a verdade chega muitas vezes queremos mandá-la embora e para isso chamamos um amigo que mora lá no nosso íntimo; esse amigo é a esperança. A esperança por ser nossa amiga fica do nosso lado e pede para não darmos mais ouvidos a verdade. Olha todo amigo quer o nosso bem; a esperança age com o coração só que a esperança às vezes nos faz errar. É verdade também que a esperança funciona como bálsamo para nossas feridas. A verdade é uma visita indesejada; mas muitas vezes temos que ouvir o que a verdade quer nos contar. É necessário chorar; desencantar; entristecer. A esperança é oportuna; mas no momento certo. É muito comum fingirmos que nada aconteceu e que a vida segue; a verdade é uma visita desagradável; mas é ela que nos faz crescer; ela também nos traz outro presente que é a maturidade. A esperança apesar de dizer que é nossa amiga faz com que continuemos iludidos e tropeçarmos logo adiante. Vejo que você é uma pessoa vocacionada para perdoar e entender; aproveite esse momento para crescer e amadurecer; use a esperança como sua aliada; não como mecanismo de defesa da angústia. Use a verdade também para conhecer não só o outro; mas você também”.
Um abraço
MARCOS BERSAM

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